O tempo tem a sua maestria. O que me levou 17 anos para conseguir, também levou 17 anos para o meu irmão. Aquele dia que pela primeira vez eu vesti um Karate-Gi e amarrei uma faixa, foi o início dessa nossa jornada como os irmãos Saito do Karate.
Os irmão Saito. Que no terceiro dia de competição disputariam o Bunkai-Kata. Modalidade que ao meu modo de ver, juntamente com o Jyu-Kumite, é a maior representação tradicional da Yamaguchi Goju-Kai.
Durante esses 17 anos, eu lembro de ter crescido vendo atletas que hoje são lendas dentro da Goju-Kai e ouvido diversas histórias sobre confrontos épicos entre esses caras que para mim, eram como os "Pelés" do Karate. Ver e ouvir essas histórias, fez com que crescesse sempre querendo ser como eles um dia. E hoje, alguns anos mais velho eu me vejo competindo e transitando pelas mesmas estradas que esses "Pelés". Competir no mesmo palco em que eles brilharam um dia, sem dúvida, é um sonho de criança realizado.
Um desses Pelés, é um suiço. Chamado Horst Baumgürtel. Suiço, que na minha infância, estava radicado no Japão, onde lá fez muita história dentro da Goju-Kai, entre duelos épicos contra outra lenda, Masatoshi Yamaguchi, como o sobrenome mesmo diz, um dos Yamaguchi.
O tempo que passa para mim, também foi o tempo que passou para o Horst. Ele estava lá. E com os seus 46 anos, no Kata individual, aos meus olhos já não é nem sombra daquilo que eu vi quando criança. Porém, ninguém passa 17 anos em vão e vai para um campeonato mundial. Assim, junto com o seu parceiro, Horst venceu os japoneses na final do Bunkai-Kata. Encerrando assim, a sua caminhada e também a sua lenda dentro da Goju-Kai Mundial.
As lendas japonesas já estavam aposentadas. Masatoshi Yamaguchi, Akihiro Saito, Kamogawa, hoje, todos técnicos da seleção Japonesa.
17 anos se passaram desde o primeiro soco. Para o meu irmão, acredito que tenha sido 17 anos, investido num parceiro. Após esses 17 anos, é realmente isso que somos. Parceiros. O tempo das lendas se foi, hoje, é o nosso tempo.
Chegamos no ginásio por volta das 7 horas da manhã. Assim que entramos, já fomos para a área de aquecimento, onde permanecemos até a chamada da nossa categoria. Em momento algum nos distraímos ou perdemos o foco daquilo que iríamos fazer. Repetimos quantas vezes fossem necessárias, para que tudo saísse como nós planejamos.
Como disse no outro post, o Brasil estava ausente dos Mundias havia 12 anos. Além da falta de experiência naquele tipo de competição, também contava um rótulo que caia sobre nós: Os Desconhecidos.
Na semi-final, enfrentamos os Japoneses. Ainda garotos, com no máximo 20 anos de idade. No dia anterior, nós os vimos na área de aquecimento, repassando os Bunkais. Fomos lá também, aquecer do lado deles. A estratégia era fazer forte para intimidar e dar-lhes o nosso cartão de visita: Cuidado com os desconhecidos.
Funcionou. A apresentação deles foi nitidamente insegura, onde claramente dava para ver que eles estavam travados. Porém, ninguém sentado naquela cadeira de arbitragem quer o Japão fora da final. Ainda mais quando, os adversários ali, são Os Desconhecidos, que ninguém sabe de onde surgiram. O Resultado, 4 a 1 para eles. Isso mostra o momento lúcido de uma pessoa imparcial e outras quatro, que preferiram o voto caseiro. Mas tudo bem, eles nos levaram para a disputa de terceiro.
Na disputa pela medalha de bronze, enfrentamos a Itália. Que ao contrário da tradição WKF, não se mostra tão forte assim dentro da Goju-Kai. Alinhados com a faixa azul, eu lembro que eu só pedia à Deus, para que eu pudesse fazer o que eu sei. Olhei para o nome "Konomoto Takashi" escrito na minha faixa e tive certeza, de que nós não perderíamos daqueles caras.
Execução certeira, tranquila, centrada. Melhor, acho que não seria possível. Tudo dentro do que nós poderíamos oferecer de melhor. O Resultado ? O vídeo conta melhor como foi:
Após Choradeira =D
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